Em 1932, Assis Valente compunha a letra da música "Boas Festas", e gravada no ano seguinte por Carlos Galhardo e acompanhamento dos Diabos do Céu, com orquestração e regência de Pixinguinha. Atualmente essa canção é considerada uma das mais belas melodias da MPB e revela um Assis Valente preocupado com a causa da criança pobre e infeliz, provavelmente devido à sua própria infância. Transformou- se no "hino" nacional do Natal brasileiro.
Mas foi neste período que a estrela de Assis Valente brilhou, cintilou intensamente, o compositor, foi colocado no auge da preferência popular brasileira. Inspirado pelo modismo de falar francês e principalmente inglês.
Assis, compôs a sua primeira obra de sucesso, o samba, "Tem Francesa No Morro", que tornou- se sucesso imediato na voz da cantora Araci Cortes. Foi através da cantora, que Assis, ficou conhecido no meio musical.
A terceira música de Assis Valente, gravada, foi "Good Bye Boy", interpretada pela cantora Carmen Miranda.
Assis conta que se "inspirou, encontrando num único motivo, quando foi à uma festa em Vila Isabel, onde as expressões em inglês eram usadas sem o menor senso do ridículo pelas pessoas que circulavam pelo local. Assis, dizia que: - "Eles trocavam muitos bye- byes, achando aquilo tudo muito engraçado e sentia pena. Na volta pra casa já tinha a marchinha pronta e esboçada".
Nos anos que se seguiram, os fatos se repetiram, Assis tornou- se um dos mais requisitados compositores e não conseguia dedicar- se com afinco nem para a música, nem para o laboratório.
Assis, gravou as músicas "Minha Embaixada Chegou", "Mangueira", "Uva de Caminhão", "Recenseamento", "Alegria" etc. Além de outras canções compostas pelo compositor Assis Valente logo caíram no gosto popular carioca daquela época. O seu sucesso estendeu- se, até o ano de 1939, o compositor Assis Valente era muito requisitado nesta época por cantores.
Anos mais tarde, Assis Valente conheceu Carmen Miranda, sua paixão por ela foi fulminante, logo transformada numa grande amizade. E então passou a compor músicas escritas especialmente para ela como a canção "ETC" (Bahia, terra do meu samba). A cantora Carmen Miranda, foi a maior intérprete e divulgadora dos sambas do compositor baiano, Assis Valente. Ela interpretou várias outras músicas escritas por Assis Valente, canções que foram eternizadas na voz da "Pequena Notável".
No dia 18 de outubro de 1934, o compositor Assis Valente, gravava a marchinha, o "Muro", a música foi composta para defender a sua imagem pessoal contra todas as pessoas que tentavam prejudicar e se intrometer na sua vida intima. Colocado em verso e prosa, a canção traduzia todo o sentimento do compositor como angústia e amargura. Neste mesmo período, o compositor compunha a canção "Gosto mais do outro lado", mostrava e dividia ao mesmo tempo os dois lados de sua vida como sendo um claro e um outro escuro, um lado bom e um outro mal vivenciadas por Assis Valente em toda a sua trajetória naquela época.
O primeiro registro da música "Maria Boa", executada pelo Bando da Lua, foi concretizada em 1935, na gravadora "RCA Vitor" da Argentina e lançada ao mesmo tempo neste país e no Brasil. A popularidade desse samba chegou aos Estados Unidos em 1941, onde o Bando da Lua fez um novo registro. Anos depois, a carismática versão da cantora Maria Alcina revive o sucesso de "Maria Boa". Outros grupos vocais também popularizaram sambas do compositor, como o Bando da Lua, que gravou também esta canção ou o "Quatro Ases e Um Coringa". A partir daí, surgia um grande compositor para as nossas escolas de samba.
Neste mesmo ano, Assis Valente gravava a música "Minha Embaixada Chegou", que fez um grande sucesso no carnaval neste período, interpretado pela cantora Carmen Miranda. Este samba foi quase esquecido durante várias décadas, sendo redescoberto nas vozes de duas jovens talentosas cantoras, Nara Leão e Maria Bethânia, para o filme "Quando o carnaval chegar", de Carlos Diegues em agosto de 1972, orquestrado e regido por Roberto Menescal.
Neste mesmo período, num pleno domingo, era realizado o concurso oficial de "Músicas Carnavalescas da Prefeitura", no Theatro "João Caetano", no Centro da cidade do Rio de Janeiro, dirigidos pelos compositores Ary Barroso e Nonô. Entre outros compositores classificados estavam o compositor Assis Valente com o samba- choro, "Camisa Listrada". Assis Valente como sarcástico nesta música debochava dos homens da alta sociedade que se fantasiavam de malandro no carnaval para escapar das dívidas feitas por eles. Embora o primeiro registro da música "Camisa Listrada", foi efetuada em abril de 1937, sendo assim creditada as irmãs Pagãs, esse LP não chegou a ser gravado. Em outubro do mesmo ano, surgia a versão da música na voz da "Pequena Notável" numa gravação inédita. Em 1969 a cantora Maria Bethânia gravou a música "Camisa Listrada" novamente do compositor baiano, Assis Valente, e cantava na Boite "Barroco", na cidade do Rio de Janeiro.
Neste mesmo período, Assis Valente em parceria com o Bando Carioca, lançava mas uma música, a marcha "Cacique do Ar" e dedicava exclusivamente ao jornal "Diário dos Associados".
Em 1937, o compositor lançava mais dois novos sambas como "Cansado de sambar" e "Que é que Maria tem no samba? "No ano seguinte, empolgado com o sucesso do samba "Camisa Listrada", criou o grupo carnavalesco "Camisas Listradas", com o qual passou a desfilar pela cidade do Rio de Janeiro.
Nesta época também, Assis Valente compunha em parceria com o compositor Durval Maia, a música "Alegria". Curiosamente esta canção se chamava "Vivo Triste", gravada originalmente pelo cantor Orlando Silva com o acompanhamento dos grupo Diabos do Céu, sob arranjos e regência de nada mais, nada menos do que Pixinguinha.
Em abril de 1939, Assis Valente, compunha a música "Uva de Caminhão", uma canção desconcertada, sem sentido. A cantora Carmen Miranda, acompanhada do conjunto Odeon, com seus trejeitos e graciosidade dava o tom a música.
O samba "Fez Bobagem" enfrentou muitas dificuldades naquela época. Os anos conturbados de 1939 à 1945 tornaram mais difíceis as gravações, devido aos conflitos políticos e ideológicos que o Brasil enfrentava neste período.
Com a ida da sua cantora favorita, Carmen Miranda,para os Estados Unidos em 1939, a carreira de Assis, começava a declinar. Em 23 de dezembro deste mesmo ano, José de Assis Valente, estimado, conhecido como poeta e respeitado pelo povo brasileiro como grande compositor da nossa música popular brasileira, casava- se com a datilógrafa carioca, à Srta. Nadyle da Silva Santos, filha do Sr. Alcebíades da Silva Santos e da Sra. Maria Augusta dos Santos, distinto casal da alta sociedade carioca. A jovem Nadyle, era quinze anos mais nova do que Assis Valente. O casamento religioso, foi realizado na Igreja da Matriz de "São Francisco Xavier", na Rua São Francisco Xavier, na Tijuca, às 17:00 horas da tarde e o ato civil, foi realizado na residência do casal, na Rua Amaro Cavalcanti, no Méier. Assis era uma pessoa muito reservada e discreta, que não revelou o seu casamento a ninguém, nem a mídia e nem mesmo aos seus amigos mais íntimos. A partir daí, Assis só pensava na sua carreira como compositor e cantor.
Neste mesmo período, Assis Valente em parceria com o Bando Carioca, lançava mas uma música, a marcha "Cacique do Ar" e dedicava exclusivamente ao jornal "Diário dos Associados".
Em 27 de setembro de 1940, foi gravado por Carmen Miranda com acompanhamento do conjunto Odeon, a música "Recenseamento". A canção foi inspirada ao povo sofrido que vivia nos becos e favelas do morro da cidade do Rio de Janeiro. Foi um tiro certeiro para as classes sociais menos favorecidas que viviam em condições precárias.
E em 31 de janeiro de 1941, nascia a primeira e única filha do sambista, Nara Nadyle dos Santos Valente. Mas como em todos os momentos de sua trajetória, as alegrias vividas ao longo de sua existência, não durariam muito: "alguns meses depois, o casamento do compositor acabava".
Mas uma tristeza e amargura para Assis Valente, que passaria a carregar também a saudade da filha, que quase não veria mais. A música mas famosa do compositor, "Brasil Pandeiro", foi composta por Assis, e dedicada a sua filha Nara Nadyle, que tinha acabado de nascer. Dada de presente para a cantora Carmen Miranda, que rejeitada por ela, acabou sendo gravada anos mais tarde neste mesmo período pela Banda "Anjos do Inferno", com tamanho sucesso, a canção fez parte da trilha sonora do filme brasileiro "Céu Azul" da Sonofilmes. E também regravada pelo grupo os "Novos Baianos" mais de 30 anos depois, de novo com grande êxito.
Em 1994, a música "Brasil Pandeiro" voltava a ser reeditada e extremamente popular na boca do povo, graças a uma campanha publicitária relacionada a "Copa do Mundo".
A vida de Assis Valente, foi muito tumultuada. Em 13 de maio de 1941, tentou o suicídio pela primeira vez, atirando- se do alto do Corcovado. Acabou sendo resgatado pelos os bombeiros, e completamente transtornado, declarou apenas: "Tenho uma mulher e uma filha que não me têm" Os jornais do dia seguinte, traziam como destaque a tentativa do primeiro suicídio do compositor Assis Valente.
O compositor depois de recuperado totalmente, compôs a música "Fez Bobagem", uma canção que marcou a sua carreira definitivamente. O samba "Fez Bobagem" enfrentou muitas dificuldades naquela época. Os anos conturbados de 1939 à 1945 tornaram mais difíceis as gravações, devido aos conflitos políticos e ideológicos que o Brasil enfrentava neste período. A Pequena Notável para quem Assis havia feito a música, foi viver nos Estados Unidos. Mesmo assim em janeiro do ano seguinte, a música "Fez Bobagem" foi relançada novamente com grande sucesso, interpretado pela cantora Aracy de Almeida. A música referia- se ao moreno que maltratava o coração de sua mulher, traindo- a com outra. Outros grandes cantores consagrados regravaram as músicas do compositor Assis Valente, como os artistas Nara Leão, Chico Buarque e Adriana Calcanhotto.
Mais a carreira bem sucedida de Assis Valente como compositor não foi suficiente para mantê- lo vivo, e anos depois de cometer a primeira tentativa de suicídio, na seqüência de uma cobrança escandalosa da cantora Elvira Pagã, para quem devia dinheiro há algum tempo. Assis, cortava os pulsos pela segunda vez, mais eranovamente salvo. Mas mesmo assim, o compositor nunca mais seria o mesmo.
Cada vez mas afastado de todas as pessoas do seu convívio, não deixava que ninguém soubesse dos seus problemas íntimos e reais. O desalento e o abandono em seu peito só faziam aumentar a tristeza cada vez mais. O compositor Russo do Pandeiro, chegou a declarar:- "Eu diria que conheci três Assis Valentes": Entre 1933 e 1939, Assis, era com Carmen Miranda, um homem presente, um compositor alegre- intenso, de 1940 a 1951, alegre- moderado, e de 1951 até o fim da vida alegre- tristíssimo".
O compositor compunha em 10 de julho de 1950, o samba "Boneca de Pano". A música relembra um pouco a nossa Pequena Notável com seu semblante de bonequinha de louça, nesse caso de pano.
Com sua pele alva e clara, e a sua boca vermelha traduziam perfeitamente a letra da melodia.
Mas no dia 5 de agosto de 1955, vinha a notícia dos rádios, que comunicavam o falecimento da cantora Carmen Miranda, a "Pequena Notável". Depois de passar mal um pouco antes em um programa de televisão ao vivo. A Pequena Notável, teve um colapso cardíaco, um enfarte fulminante, na sua casa em Beverly Hills, Estados Unidos.
Seu corpo, foi embalsamado e veio de avião direto para o Brasil, onde uma multidão de um milhão de pessoas a esperavam no aeroporto do "Galeão", atual "Tom Jobim', seguindo o cortejo de seu enterro, cantando emocionado a música "Taí, eu fiz tudo pra você gostar de mim", sua primeira canção de grande sucesso, composta por Joubert de Carvalho. A cantora Carmen Miranda, até hoje continua sendo sempre lembrada pelo povo e pelos seus fãs, através de shows e discos em sua homenagem como nos filmes, documentários sobre a sua vida (como o premiado "Banana Is My Bussines"), aonde era conhecida pelos americanos como "Brazilian Bombshell".
O corpo de Carmen Miranda chegou ao Rio no dia 12 de agosto de 1955. Ao microfone da Radio Mayrink Veiga, a sua estação aqui no Brasil, César Ladeira, naquele dia, fez uma saudação de despedida à Carmen. Apesar da qualidade da gravação não ser boa, vale a pena ouví-la: Carlos Henrique (locutor): Vai falar, César Ladeira: Carmen, minha boa amiga, quiseram seus antigos companheiros da Mayrink Veiga que fosse eu o intérprete de sua tristeza nesse nosso último adeus. Eu, que tantas e tantas vezes apresentei você ao microfone da sua estação, com sua voz que fazia vibrar o espaço de alegria e de ritmo, eu sou agora o escolhido para a despedida extrema. Por este mesmo microfone, quando seu silêncio definitivo enche nossos corações de mágoa e tristeza. Esta mesma rua, que hoje se encontra repleta de gente amiga, deplorando seu desaparecimento, esta mesma rua foi testemunha de seus sucessos mundiais lá por volta de 1934. Você, no marasmo artístico daquela época, era um acontecimento nacional. Seu nome projetava-se para o alto, num destino vaidoso de rojão, sempre subindo, subindo.
Duas vezes por semana, na obrigação pontual de suas audições, essa gente se acotovelava numa pequena sala apelidada de auditório, acompanhando feliz pelo vidro do estúdio os números musicais que você enviava a todo o Brasil, criando sempre um sucesso atrás do outro. "Camisa Listrada", "Uva de Caminhão", "Adeus Batucada", "No Tabuleiro da Baiana". Essa mesma gente ficou feliz quando soube em 1939 que outros olhos iriam apreciar sua arte para sempre, lá fora, lá longe. Sempre feliz, minha amiga, essa mesma gente que a levou até o navio para um bota-fora consagrador, essa mesma gente foi buscá-la no ano seguinte após a confirmação de seu êxito internacional. No âmbito da Rua Mayrink Veiga, que aqui andou e que a seguiu pela Avenida Rio Branco super lotada. Os alto-falantes berrando e você, a Pequena Notável, foi saudada como uma legítima jóia verde-amarela. A nossa cantora doméstica ia além fronteiras que ampliavam seu cartaz. O cinema levara nossa Carmen Miranda à todas as partes do mundo. E em todo coração havia um lugarzinho reservado para a gente gostar de você. E você,
Carmen, você acabou voltando para longe e lá ficou catorze ou quinze anos. Seu pensamento constante era, no entanto, a sua terra. Neste Brasil onde você não nasceu, mas que poderia ter nascido pelo que por ele fez na divulgação de sua música. Um milagre, apesar do distante, sua estrela ainda brilhava com intensidade. Seu nome continuou sendo uma claridade. Mas enquanto seus antigos companheiros da Mayrink Veiga, essa mesma gente que sempre acompanhou seus passos com interesse, enquanto nós gozávamos com seu sucesso permanente, esse mesmo sucesso vinha matando você, Carmen. A glória vinha pouco a pouco assassinando, desgastando suas energias, num vai-e-vem obrigatório de contratos a cumprir, na exigência fria e calculista dos números, em quinze anos passados tivemos a prova do preço de sua popularidade, Carmen. A Pequena Notável, aqui chegava quinze anos depois, curvalida, cansada, com os nervos em pedaços.
Espalhou-se por aí uma onda de boatos imaginando doenças demais. Apenas uma era a causa: descontrole imenso de nervos, cansaço, excesso de trabalho. Mas então o que valera tudo aquilo? Toda aquela brilhante carreira, toda aquela trajetória maravilhosa? Afinal, este sacrifício valeu a pena? Valeu, e não valeu. Valeu pela repercussão internacional das melodias do Brasil, das coisas do Brasil. Do Brasil ele mesmo, da embaixada risonha, cujo côro musical presidido pela Pequena Notável, conseguiu divulgar no exterior. Valeu a pena sim, para nós. Mas não valeu a pena para você, Carmen, que pagou tão alto salário pelo custo de sua fama. Ao mesmo tempo, dançava e "iaiava". Divertia populações e enriquecia. Mas de que valeu tanto sacrifício, que comprou a glória a tão elevado preço - a própria vida? Carmen, nós, seus antigos companheiros, dessa rádio de tão brilhantes dias, nós, que desta Rua Mayrink Veiga, nós, o Brasil, que a acompanhávamos sempre radiantes por suas glórias, também lhe devemos alguma coisa. E essa dívida nós saldaremos no culto perene da sua saudade. Nós lhe devemos todo esse sacrifício feito por nós. E porque nós sabemos que foi para nós, com pensamento no Brasil, que você embarcou uma noite, em 1939, para Nova York, para elevar o nome musical do Brasil. Tão alto, tão alto que numa certa madrugada de agosto de 1955, você percebeu que estava cantando para alguns amigos que você nunca esqueceu: Custódio Mesquita, João de Barro, Francisco Alves, Noel Rosa, César Silva, Luiz Barbosa. Carmen, você que sempre me agradecia o apelido com que num dia feliz eu a chamei, a Pequena Notável, desculpe-me hoje a falta de brilho destas palavras pequenas, mas eu desejei ser apenas sincero. Seu amigo de sempre, seu velho companheiro de luta, o representante de todos que aqui trabalharam e trabalham agora. E é sinceramente que eu lhe trago nosso muito obrigado por tudo que você fez. E é sinceramente que eu lhe digo que seu sacrifício será para sempre louvado em nossa terra. E é sinceramente, Carmen amiga, que lhe desejamos que você repouse em paz. Nessa paz que você nunca teve em sua atribulada carreira. Adeus, Carmen. Adeus. Repouse em paz.
Assis Valente, declarou:- "Eu e Carmen fomos em certa época um só. Depois ela foi para os Estados Unidos, eu deixei de ser compositor e passei a levar esta vida que não é vida".
Assis Valente foi dos que, de início, perceberam que Carmen Miranda tinha um potencial, era um gênio musical. Conheceu- a, de vista, no Theatro "João Caetano". Tentou, por diversas vezes aproximar- se dela. Impossível, porque um homem magro, carregava sempre um violão, boêmio mas com expressão severa, não permitia. que Assis Valente não chegasse perto da Pequena Notável. Mas o compositor persistente, nunca desistiu de um dia chegar perto de sua adorável e admirável Carmen Miranda. Carmen Miranda tornou- se- lhe, para o compositor, então uma fundo "E bateu- se a chapa", interpretado na voz da cantora Carmen Miranda. Então, por acaso, (o acaso amigo de todos os artistas) fez com que o violonista Josué de Barros, que era o tal homem magro, de violão em punho, que sempre acompanhava Carmen, tocasse distraído, a introdução da música de Assis. Foi um grande sucesso. A música comovia, e fazia chorar. Assis valente relembra o tal fato a Ari Vasconcelos: Assis Valente, chegou a declarar, dizendo:- "Foi um sucesso tão grande que me arrancou lágrimas dos olhos. Ela me viu e gritou para o povo: "Vou apresentar, agora a vocês o dono da música". Houve um bis, todos cantaram em coro. Senti que tinha surgido. Sinto que hoje com a morte da nossa Carmen Miranda muita gente vai querer aparecer. "Eu preferi continuar a sombra da nossa grande amizade".
Carmen Miranda deve a sua carreira promissora de cantora popular brasileira, a três baianos. Esses três baianos, filhos da Bahia, que a "Pequena Notável" tanto exaltou, cantando sambas, abriram caminhos para a sua fama, ao seu sucesso. Em três momentos da vida da estrela luso- brasileira, eles foram fatores decisivos para sua carreira como cantora. A cantora Carmen Miranda, chegou a declarar:- "Assis Valente é um desses compositores baianos junto com Josué de Barros e Dorival Caymmi". Assis Valente fez um sucesso fenomenal em 1933 com a composição "Good bye, boy". O segundo baiano na vida de Carmen foi o compositor Assis Valente que veio para o Rio em 1927 com diploma de protético e estudante de odontologia, dividia seu tempo entre o consultório bem montado e a roda do samba, reinando com cetro e coroa em pouco tempo, e durante dez anos seguidos, porque Carmen Miranda gravou os discos de Assis Valente com exclusividade, e o fez absoluto, eterno.
Foi o violonista Josué de Barros quem aproximou Assis de Carmen Miranda numa festa no antigo cinema "Broadway", hoje Cine Odeon, na Cinelândia, no Centro da cidade do Rio de Janeiro.
Para a cantora e o compositor Assis valente, começou então a "Era de Ouro" de suas vidas. Entre outras coisas, Assis Valente compôs especialmente para a Pequena Notável canções como "Good bye, boy", "Camisa Listrada", "Papai Noel", "Anoiteceu", "Uva de Caminhão", "Disseram que voltei americanizada", "E o mundo não se acabou", "Minha embaixada chegou", enfim muitas outras músicas que foram sucesso e consagradas nos grandes carnavais passados. A grande maioria dos discos de Carmen Miranda é de autoria do compositor Assis Valente, o segundo baiano que levou- a à fama.
Essa coleção vale ouro hoje muito para os colecionadores que são apaixonados por esse estilo musical.
As músicas que Carmen Miranda cantava de Assis Valente, Ari Barroso, Dorival Caymmi e de outros grandes artistas que atualmente fazem parte do acervo e do patrimônio da nossa cultura popular brasileira. A nossa música nos faz lembrar dos tempos antigos, dos grandes nomes de e compositores e cantores que partiram muito cedo.
Nos últimos tempos, Assis Valente andava triste. Mal conversava com os companheiros que encontrava na rua, tampouco sorria. No entanto, num dos primeiro dias de março de 1958, Assis estava novamente animado. Comunicativo parecia até mesmo feliz. Passou em um bar, onde encontrou o jornalista e também amigo, Aor Ribeiro, contou- lhe a notícia num raro momento de alegria verdadeira: Assis Valente, disse:- "Pixinguinha vai gravar dois discos meus, Aor". O jornalista não podia saber, mais presenciava ali o último momento, delírio do compositor, a derradeira fantasia de uma vida, na qual a imaginação sempre escondeu a mágoa.
No dia 11 de março deste mesmo ano, com sua criatividade e alegria oculta, como se tivesse esperando um pouco mais da vida, talvez estivesse sendo lembrado somente por sua poesia e contribuição a nossa música popular brasileira. Desesperado com as dívidas, Assis Valente vai ao escritório de direitos Autorais. Ali só consegue um calmante. Telefona aos seus empregados, instruindo- os no caso de sua morte, e depois para dois amigos, comunicando a sua decisão. Sentando- se num banco de uma praça, ingere guaraná com formicida, deixando no bolso um bilhete à polícia, onde pedia ao também compositor e amigo Ari Barroso, que lhe pagasse dois alugueis atrasados. Morria numa quinta- feira, precisamente, às 18:00 horas da tarde, o compositor Assis Valente.
O compositor, foi encontrado por um homem que passava pelo local, deitado, morto num banco de uma praça pública, conhecido como a "Praça do Russel", na Glória. O corpo do compositor Assis Valente foi encontrado por homem não identificado que passava no local. O compositor conseguia pela terceira e última vez, concretizar o seu desejo. A cidade enchia- se de dor, sem poesia, chocando amigos e conhecidos, parentes e familiares, deixava para trás todos os problemas de sua amargurada vida. Assis Valente escrevia num bilhete, seu último verso:"Vou parar de escrever, pois estou chorando de saudade de todas, e de tudo".
O cortejo de Assis Valente foi acompanhado de compositores, artistas, cantores e populares, além de parentes e familiares que estiveram presentes no seu sepultamento, realizado à tarde no cemitério 'São João Batista' (Quadra 19- Catacumba 507) em Botafogo. O enterro do compositor, foi custeado pela "Sociedade Brasileira de Autores, Compositores e Editores Musicais".
Entre amigos e admiradores de Assis Valente, que acompanharam o seu velório e enterro estavam presentes, os compositores Ari Barroso pela "SBACEM", o Vereador Amando Fonseca, representando a cidade do Rio de Janeiro, o Sr. Oscar Berbet Tavares, pelas "Casas Bahia" que prestaram a última homenagem ao compositor junto ao seu túmulo. Além de outros diretores da "SBACEM", Marília Batista, Joubert de Carvalho, Newton Teixeira, Russo do Pandeiro, Orlando Silva, Ismael Silva, Felisberto Martins, Gastão Formenti, Marino Pinto, Blackout, Olavo Silva, René Bittencourt, Mário Rossi, Sinval Silva, Zequete, o jornalista e Delegado Geral da Propaganda do Mate no Brasil, o Sr. Carlos de Souza Vianna, Zé Trindade e Risadinha. E também estavam presentes para dar o último adeus ao compositor baiano, os produtores Hebert Richers e outras entidades, além de numerosas pessoas, entre as quais figuras do rádio e da gravação de discos como o diplomata Pascoal, Carlos Magno, que representou o "Presidente da República", no funeral, acompanhando o corpo até à sepultura. Numa das coroas enviadas por
Amando Fonseca, estavam escritos a seguinte frase:
"Assis Valente, a cidade chora a tua morte".
Talvez assim realizando a profecia de um de seus últimos sambas, "Lamento":
"Felicidade, afogada morreu/ A esperança foi ao fundo e voltou/ Foi ao fundo e voltou/ Foi ao fundo e ficou".
Ausente no velório e no enterro do amigo, mas presente no sofrimento coletivo, Pixinguinha não conseguia aceitar o gesto tão extremo do sambista. Pixinguinha, chegou a declarar:- "Sexta- feira passada, dia 7 de março, ele estava alegre, contando anedotas como sempre". Decidido, então prestar à sua última homenagem póstuma ao amigo e companheiro morto. Acreditando estar atendendo ao desejo, que Assis verbalizava dias antes de morrer, Pixinguinha orquestrava e regravava a música "Tentei Fazer Mais Um Baião".
Mas foi neste período que a estrela de Assis Valente brilhou, cintilou intensamente, o compositor, foi colocado no auge da preferência popular brasileira. Inspirado pelo modismo de falar francês e principalmente inglês.
Assis, compôs a sua primeira obra de sucesso, o samba, "Tem Francesa No Morro", que tornou- se sucesso imediato na voz da cantora Araci Cortes. Foi através da cantora, que Assis, ficou conhecido no meio musical.
A terceira música de Assis Valente, gravada, foi "Good Bye Boy", interpretada pela cantora Carmen Miranda.
Assis conta que se "inspirou, encontrando num único motivo, quando foi à uma festa em Vila Isabel, onde as expressões em inglês eram usadas sem o menor senso do ridículo pelas pessoas que circulavam pelo local. Assis, dizia que: - "Eles trocavam muitos bye- byes, achando aquilo tudo muito engraçado e sentia pena. Na volta pra casa já tinha a marchinha pronta e esboçada".
Nos anos que se seguiram, os fatos se repetiram, Assis tornou- se um dos mais requisitados compositores e não conseguia dedicar- se com afinco nem para a música, nem para o laboratório.
Assis, gravou as músicas "Minha Embaixada Chegou", "Mangueira", "Uva de Caminhão", "Recenseamento", "Alegria" etc. Além de outras canções compostas pelo compositor Assis Valente logo caíram no gosto popular carioca daquela época. O seu sucesso estendeu- se, até o ano de 1939, o compositor Assis Valente era muito requisitado nesta época por cantores.
Anos mais tarde, Assis Valente conheceu Carmen Miranda, sua paixão por ela foi fulminante, logo transformada numa grande amizade. E então passou a compor músicas escritas especialmente para ela como a canção "ETC" (Bahia, terra do meu samba). A cantora Carmen Miranda, foi a maior intérprete e divulgadora dos sambas do compositor baiano, Assis Valente. Ela interpretou várias outras músicas escritas por Assis Valente, canções que foram eternizadas na voz da "Pequena Notável".
No dia 18 de outubro de 1934, o compositor Assis Valente, gravava a marchinha, o "Muro", a música foi composta para defender a sua imagem pessoal contra todas as pessoas que tentavam prejudicar e se intrometer na sua vida intima. Colocado em verso e prosa, a canção traduzia todo o sentimento do compositor como angústia e amargura. Neste mesmo período, o compositor compunha a canção "Gosto mais do outro lado", mostrava e dividia ao mesmo tempo os dois lados de sua vida como sendo um claro e um outro escuro, um lado bom e um outro mal vivenciadas por Assis Valente em toda a sua trajetória naquela época.
O primeiro registro da música "Maria Boa", executada pelo Bando da Lua, foi concretizada em 1935, na gravadora "RCA Vitor" da Argentina e lançada ao mesmo tempo neste país e no Brasil. A popularidade desse samba chegou aos Estados Unidos em 1941, onde o Bando da Lua fez um novo registro. Anos depois, a carismática versão da cantora Maria Alcina revive o sucesso de "Maria Boa". Outros grupos vocais também popularizaram sambas do compositor, como o Bando da Lua, que gravou também esta canção ou o "Quatro Ases e Um Coringa". A partir daí, surgia um grande compositor para as nossas escolas de samba.
Neste mesmo ano, Assis Valente gravava a música "Minha Embaixada Chegou", que fez um grande sucesso no carnaval neste período, interpretado pela cantora Carmen Miranda. Este samba foi quase esquecido durante várias décadas, sendo redescoberto nas vozes de duas jovens talentosas cantoras, Nara Leão e Maria Bethânia, para o filme "Quando o carnaval chegar", de Carlos Diegues em agosto de 1972, orquestrado e regido por Roberto Menescal.
Neste mesmo período, num pleno domingo, era realizado o concurso oficial de "Músicas Carnavalescas da Prefeitura", no Theatro "João Caetano", no Centro da cidade do Rio de Janeiro, dirigidos pelos compositores Ary Barroso e Nonô. Entre outros compositores classificados estavam o compositor Assis Valente com o samba- choro, "Camisa Listrada". Assis Valente como sarcástico nesta música debochava dos homens da alta sociedade que se fantasiavam de malandro no carnaval para escapar das dívidas feitas por eles. Embora o primeiro registro da música "Camisa Listrada", foi efetuada em abril de 1937, sendo assim creditada as irmãs Pagãs, esse LP não chegou a ser gravado. Em outubro do mesmo ano, surgia a versão da música na voz da "Pequena Notável" numa gravação inédita. Em 1969 a cantora Maria Bethânia gravou a música "Camisa Listrada" novamente do compositor baiano, Assis Valente, e cantava na Boite "Barroco", na cidade do Rio de Janeiro.
Neste mesmo período, Assis Valente em parceria com o Bando Carioca, lançava mas uma música, a marcha "Cacique do Ar" e dedicava exclusivamente ao jornal "Diário dos Associados".
Em 1937, o compositor lançava mais dois novos sambas como "Cansado de sambar" e "Que é que Maria tem no samba? "No ano seguinte, empolgado com o sucesso do samba "Camisa Listrada", criou o grupo carnavalesco "Camisas Listradas", com o qual passou a desfilar pela cidade do Rio de Janeiro.
Nesta época também, Assis Valente compunha em parceria com o compositor Durval Maia, a música "Alegria". Curiosamente esta canção se chamava "Vivo Triste", gravada originalmente pelo cantor Orlando Silva com o acompanhamento dos grupo Diabos do Céu, sob arranjos e regência de nada mais, nada menos do que Pixinguinha.
Em abril de 1939, Assis Valente, compunha a música "Uva de Caminhão", uma canção desconcertada, sem sentido. A cantora Carmen Miranda, acompanhada do conjunto Odeon, com seus trejeitos e graciosidade dava o tom a música.
O samba "Fez Bobagem" enfrentou muitas dificuldades naquela época. Os anos conturbados de 1939 à 1945 tornaram mais difíceis as gravações, devido aos conflitos políticos e ideológicos que o Brasil enfrentava neste período.
Com a ida da sua cantora favorita, Carmen Miranda,para os Estados Unidos em 1939, a carreira de Assis, começava a declinar. Em 23 de dezembro deste mesmo ano, José de Assis Valente, estimado, conhecido como poeta e respeitado pelo povo brasileiro como grande compositor da nossa música popular brasileira, casava- se com a datilógrafa carioca, à Srta. Nadyle da Silva Santos, filha do Sr. Alcebíades da Silva Santos e da Sra. Maria Augusta dos Santos, distinto casal da alta sociedade carioca. A jovem Nadyle, era quinze anos mais nova do que Assis Valente. O casamento religioso, foi realizado na Igreja da Matriz de "São Francisco Xavier", na Rua São Francisco Xavier, na Tijuca, às 17:00 horas da tarde e o ato civil, foi realizado na residência do casal, na Rua Amaro Cavalcanti, no Méier. Assis era uma pessoa muito reservada e discreta, que não revelou o seu casamento a ninguém, nem a mídia e nem mesmo aos seus amigos mais íntimos. A partir daí, Assis só pensava na sua carreira como compositor e cantor.
Neste mesmo período, Assis Valente em parceria com o Bando Carioca, lançava mas uma música, a marcha "Cacique do Ar" e dedicava exclusivamente ao jornal "Diário dos Associados".
Em 27 de setembro de 1940, foi gravado por Carmen Miranda com acompanhamento do conjunto Odeon, a música "Recenseamento". A canção foi inspirada ao povo sofrido que vivia nos becos e favelas do morro da cidade do Rio de Janeiro. Foi um tiro certeiro para as classes sociais menos favorecidas que viviam em condições precárias.
E em 31 de janeiro de 1941, nascia a primeira e única filha do sambista, Nara Nadyle dos Santos Valente. Mas como em todos os momentos de sua trajetória, as alegrias vividas ao longo de sua existência, não durariam muito: "alguns meses depois, o casamento do compositor acabava".
Mas uma tristeza e amargura para Assis Valente, que passaria a carregar também a saudade da filha, que quase não veria mais. A música mas famosa do compositor, "Brasil Pandeiro", foi composta por Assis, e dedicada a sua filha Nara Nadyle, que tinha acabado de nascer. Dada de presente para a cantora Carmen Miranda, que rejeitada por ela, acabou sendo gravada anos mais tarde neste mesmo período pela Banda "Anjos do Inferno", com tamanho sucesso, a canção fez parte da trilha sonora do filme brasileiro "Céu Azul" da Sonofilmes. E também regravada pelo grupo os "Novos Baianos" mais de 30 anos depois, de novo com grande êxito.
Em 1994, a música "Brasil Pandeiro" voltava a ser reeditada e extremamente popular na boca do povo, graças a uma campanha publicitária relacionada a "Copa do Mundo".
A vida de Assis Valente, foi muito tumultuada. Em 13 de maio de 1941, tentou o suicídio pela primeira vez, atirando- se do alto do Corcovado. Acabou sendo resgatado pelos os bombeiros, e completamente transtornado, declarou apenas: "Tenho uma mulher e uma filha que não me têm" Os jornais do dia seguinte, traziam como destaque a tentativa do primeiro suicídio do compositor Assis Valente.
O compositor depois de recuperado totalmente, compôs a música "Fez Bobagem", uma canção que marcou a sua carreira definitivamente. O samba "Fez Bobagem" enfrentou muitas dificuldades naquela época. Os anos conturbados de 1939 à 1945 tornaram mais difíceis as gravações, devido aos conflitos políticos e ideológicos que o Brasil enfrentava neste período. A Pequena Notável para quem Assis havia feito a música, foi viver nos Estados Unidos. Mesmo assim em janeiro do ano seguinte, a música "Fez Bobagem" foi relançada novamente com grande sucesso, interpretado pela cantora Aracy de Almeida. A música referia- se ao moreno que maltratava o coração de sua mulher, traindo- a com outra. Outros grandes cantores consagrados regravaram as músicas do compositor Assis Valente, como os artistas Nara Leão, Chico Buarque e Adriana Calcanhotto.
Mais a carreira bem sucedida de Assis Valente como compositor não foi suficiente para mantê- lo vivo, e anos depois de cometer a primeira tentativa de suicídio, na seqüência de uma cobrança escandalosa da cantora Elvira Pagã, para quem devia dinheiro há algum tempo. Assis, cortava os pulsos pela segunda vez, mais eranovamente salvo. Mas mesmo assim, o compositor nunca mais seria o mesmo.
Cada vez mas afastado de todas as pessoas do seu convívio, não deixava que ninguém soubesse dos seus problemas íntimos e reais. O desalento e o abandono em seu peito só faziam aumentar a tristeza cada vez mais. O compositor Russo do Pandeiro, chegou a declarar:- "Eu diria que conheci três Assis Valentes": Entre 1933 e 1939, Assis, era com Carmen Miranda, um homem presente, um compositor alegre- intenso, de 1940 a 1951, alegre- moderado, e de 1951 até o fim da vida alegre- tristíssimo".
O compositor compunha em 10 de julho de 1950, o samba "Boneca de Pano". A música relembra um pouco a nossa Pequena Notável com seu semblante de bonequinha de louça, nesse caso de pano.
Com sua pele alva e clara, e a sua boca vermelha traduziam perfeitamente a letra da melodia.
Mas no dia 5 de agosto de 1955, vinha a notícia dos rádios, que comunicavam o falecimento da cantora Carmen Miranda, a "Pequena Notável". Depois de passar mal um pouco antes em um programa de televisão ao vivo. A Pequena Notável, teve um colapso cardíaco, um enfarte fulminante, na sua casa em Beverly Hills, Estados Unidos.
Seu corpo, foi embalsamado e veio de avião direto para o Brasil, onde uma multidão de um milhão de pessoas a esperavam no aeroporto do "Galeão", atual "Tom Jobim', seguindo o cortejo de seu enterro, cantando emocionado a música "Taí, eu fiz tudo pra você gostar de mim", sua primeira canção de grande sucesso, composta por Joubert de Carvalho. A cantora Carmen Miranda, até hoje continua sendo sempre lembrada pelo povo e pelos seus fãs, através de shows e discos em sua homenagem como nos filmes, documentários sobre a sua vida (como o premiado "Banana Is My Bussines"), aonde era conhecida pelos americanos como "Brazilian Bombshell".
O corpo de Carmen Miranda chegou ao Rio no dia 12 de agosto de 1955. Ao microfone da Radio Mayrink Veiga, a sua estação aqui no Brasil, César Ladeira, naquele dia, fez uma saudação de despedida à Carmen. Apesar da qualidade da gravação não ser boa, vale a pena ouví-la: Carlos Henrique (locutor): Vai falar, César Ladeira: Carmen, minha boa amiga, quiseram seus antigos companheiros da Mayrink Veiga que fosse eu o intérprete de sua tristeza nesse nosso último adeus. Eu, que tantas e tantas vezes apresentei você ao microfone da sua estação, com sua voz que fazia vibrar o espaço de alegria e de ritmo, eu sou agora o escolhido para a despedida extrema. Por este mesmo microfone, quando seu silêncio definitivo enche nossos corações de mágoa e tristeza. Esta mesma rua, que hoje se encontra repleta de gente amiga, deplorando seu desaparecimento, esta mesma rua foi testemunha de seus sucessos mundiais lá por volta de 1934. Você, no marasmo artístico daquela época, era um acontecimento nacional. Seu nome projetava-se para o alto, num destino vaidoso de rojão, sempre subindo, subindo.
Duas vezes por semana, na obrigação pontual de suas audições, essa gente se acotovelava numa pequena sala apelidada de auditório, acompanhando feliz pelo vidro do estúdio os números musicais que você enviava a todo o Brasil, criando sempre um sucesso atrás do outro. "Camisa Listrada", "Uva de Caminhão", "Adeus Batucada", "No Tabuleiro da Baiana". Essa mesma gente ficou feliz quando soube em 1939 que outros olhos iriam apreciar sua arte para sempre, lá fora, lá longe. Sempre feliz, minha amiga, essa mesma gente que a levou até o navio para um bota-fora consagrador, essa mesma gente foi buscá-la no ano seguinte após a confirmação de seu êxito internacional. No âmbito da Rua Mayrink Veiga, que aqui andou e que a seguiu pela Avenida Rio Branco super lotada. Os alto-falantes berrando e você, a Pequena Notável, foi saudada como uma legítima jóia verde-amarela. A nossa cantora doméstica ia além fronteiras que ampliavam seu cartaz. O cinema levara nossa Carmen Miranda à todas as partes do mundo. E em todo coração havia um lugarzinho reservado para a gente gostar de você. E você,
Carmen, você acabou voltando para longe e lá ficou catorze ou quinze anos. Seu pensamento constante era, no entanto, a sua terra. Neste Brasil onde você não nasceu, mas que poderia ter nascido pelo que por ele fez na divulgação de sua música. Um milagre, apesar do distante, sua estrela ainda brilhava com intensidade. Seu nome continuou sendo uma claridade. Mas enquanto seus antigos companheiros da Mayrink Veiga, essa mesma gente que sempre acompanhou seus passos com interesse, enquanto nós gozávamos com seu sucesso permanente, esse mesmo sucesso vinha matando você, Carmen. A glória vinha pouco a pouco assassinando, desgastando suas energias, num vai-e-vem obrigatório de contratos a cumprir, na exigência fria e calculista dos números, em quinze anos passados tivemos a prova do preço de sua popularidade, Carmen. A Pequena Notável, aqui chegava quinze anos depois, curvalida, cansada, com os nervos em pedaços.
Espalhou-se por aí uma onda de boatos imaginando doenças demais. Apenas uma era a causa: descontrole imenso de nervos, cansaço, excesso de trabalho. Mas então o que valera tudo aquilo? Toda aquela brilhante carreira, toda aquela trajetória maravilhosa? Afinal, este sacrifício valeu a pena? Valeu, e não valeu. Valeu pela repercussão internacional das melodias do Brasil, das coisas do Brasil. Do Brasil ele mesmo, da embaixada risonha, cujo côro musical presidido pela Pequena Notável, conseguiu divulgar no exterior. Valeu a pena sim, para nós. Mas não valeu a pena para você, Carmen, que pagou tão alto salário pelo custo de sua fama. Ao mesmo tempo, dançava e "iaiava". Divertia populações e enriquecia. Mas de que valeu tanto sacrifício, que comprou a glória a tão elevado preço - a própria vida? Carmen, nós, seus antigos companheiros, dessa rádio de tão brilhantes dias, nós, que desta Rua Mayrink Veiga, nós, o Brasil, que a acompanhávamos sempre radiantes por suas glórias, também lhe devemos alguma coisa. E essa dívida nós saldaremos no culto perene da sua saudade. Nós lhe devemos todo esse sacrifício feito por nós. E porque nós sabemos que foi para nós, com pensamento no Brasil, que você embarcou uma noite, em 1939, para Nova York, para elevar o nome musical do Brasil. Tão alto, tão alto que numa certa madrugada de agosto de 1955, você percebeu que estava cantando para alguns amigos que você nunca esqueceu: Custódio Mesquita, João de Barro, Francisco Alves, Noel Rosa, César Silva, Luiz Barbosa. Carmen, você que sempre me agradecia o apelido com que num dia feliz eu a chamei, a Pequena Notável, desculpe-me hoje a falta de brilho destas palavras pequenas, mas eu desejei ser apenas sincero. Seu amigo de sempre, seu velho companheiro de luta, o representante de todos que aqui trabalharam e trabalham agora. E é sinceramente que eu lhe trago nosso muito obrigado por tudo que você fez. E é sinceramente que eu lhe digo que seu sacrifício será para sempre louvado em nossa terra. E é sinceramente, Carmen amiga, que lhe desejamos que você repouse em paz. Nessa paz que você nunca teve em sua atribulada carreira. Adeus, Carmen. Adeus. Repouse em paz.
Assis Valente, declarou:- "Eu e Carmen fomos em certa época um só. Depois ela foi para os Estados Unidos, eu deixei de ser compositor e passei a levar esta vida que não é vida".
Assis Valente foi dos que, de início, perceberam que Carmen Miranda tinha um potencial, era um gênio musical. Conheceu- a, de vista, no Theatro "João Caetano". Tentou, por diversas vezes aproximar- se dela. Impossível, porque um homem magro, carregava sempre um violão, boêmio mas com expressão severa, não permitia. que Assis Valente não chegasse perto da Pequena Notável. Mas o compositor persistente, nunca desistiu de um dia chegar perto de sua adorável e admirável Carmen Miranda. Carmen Miranda tornou- se- lhe, para o compositor, então uma fundo "E bateu- se a chapa", interpretado na voz da cantora Carmen Miranda. Então, por acaso, (o acaso amigo de todos os artistas) fez com que o violonista Josué de Barros, que era o tal homem magro, de violão em punho, que sempre acompanhava Carmen, tocasse distraído, a introdução da música de Assis. Foi um grande sucesso. A música comovia, e fazia chorar. Assis valente relembra o tal fato a Ari Vasconcelos: Assis Valente, chegou a declarar, dizendo:- "Foi um sucesso tão grande que me arrancou lágrimas dos olhos. Ela me viu e gritou para o povo: "Vou apresentar, agora a vocês o dono da música". Houve um bis, todos cantaram em coro. Senti que tinha surgido. Sinto que hoje com a morte da nossa Carmen Miranda muita gente vai querer aparecer. "Eu preferi continuar a sombra da nossa grande amizade".
Carmen Miranda deve a sua carreira promissora de cantora popular brasileira, a três baianos. Esses três baianos, filhos da Bahia, que a "Pequena Notável" tanto exaltou, cantando sambas, abriram caminhos para a sua fama, ao seu sucesso. Em três momentos da vida da estrela luso- brasileira, eles foram fatores decisivos para sua carreira como cantora. A cantora Carmen Miranda, chegou a declarar:- "Assis Valente é um desses compositores baianos junto com Josué de Barros e Dorival Caymmi". Assis Valente fez um sucesso fenomenal em 1933 com a composição "Good bye, boy". O segundo baiano na vida de Carmen foi o compositor Assis Valente que veio para o Rio em 1927 com diploma de protético e estudante de odontologia, dividia seu tempo entre o consultório bem montado e a roda do samba, reinando com cetro e coroa em pouco tempo, e durante dez anos seguidos, porque Carmen Miranda gravou os discos de Assis Valente com exclusividade, e o fez absoluto, eterno.
Foi o violonista Josué de Barros quem aproximou Assis de Carmen Miranda numa festa no antigo cinema "Broadway", hoje Cine Odeon, na Cinelândia, no Centro da cidade do Rio de Janeiro.
Para a cantora e o compositor Assis valente, começou então a "Era de Ouro" de suas vidas. Entre outras coisas, Assis Valente compôs especialmente para a Pequena Notável canções como "Good bye, boy", "Camisa Listrada", "Papai Noel", "Anoiteceu", "Uva de Caminhão", "Disseram que voltei americanizada", "E o mundo não se acabou", "Minha embaixada chegou", enfim muitas outras músicas que foram sucesso e consagradas nos grandes carnavais passados. A grande maioria dos discos de Carmen Miranda é de autoria do compositor Assis Valente, o segundo baiano que levou- a à fama.
Essa coleção vale ouro hoje muito para os colecionadores que são apaixonados por esse estilo musical.
As músicas que Carmen Miranda cantava de Assis Valente, Ari Barroso, Dorival Caymmi e de outros grandes artistas que atualmente fazem parte do acervo e do patrimônio da nossa cultura popular brasileira. A nossa música nos faz lembrar dos tempos antigos, dos grandes nomes de e compositores e cantores que partiram muito cedo.
Nos últimos tempos, Assis Valente andava triste. Mal conversava com os companheiros que encontrava na rua, tampouco sorria. No entanto, num dos primeiro dias de março de 1958, Assis estava novamente animado. Comunicativo parecia até mesmo feliz. Passou em um bar, onde encontrou o jornalista e também amigo, Aor Ribeiro, contou- lhe a notícia num raro momento de alegria verdadeira: Assis Valente, disse:- "Pixinguinha vai gravar dois discos meus, Aor". O jornalista não podia saber, mais presenciava ali o último momento, delírio do compositor, a derradeira fantasia de uma vida, na qual a imaginação sempre escondeu a mágoa.
No dia 11 de março deste mesmo ano, com sua criatividade e alegria oculta, como se tivesse esperando um pouco mais da vida, talvez estivesse sendo lembrado somente por sua poesia e contribuição a nossa música popular brasileira. Desesperado com as dívidas, Assis Valente vai ao escritório de direitos Autorais. Ali só consegue um calmante. Telefona aos seus empregados, instruindo- os no caso de sua morte, e depois para dois amigos, comunicando a sua decisão. Sentando- se num banco de uma praça, ingere guaraná com formicida, deixando no bolso um bilhete à polícia, onde pedia ao também compositor e amigo Ari Barroso, que lhe pagasse dois alugueis atrasados. Morria numa quinta- feira, precisamente, às 18:00 horas da tarde, o compositor Assis Valente.
O compositor, foi encontrado por um homem que passava pelo local, deitado, morto num banco de uma praça pública, conhecido como a "Praça do Russel", na Glória. O corpo do compositor Assis Valente foi encontrado por homem não identificado que passava no local. O compositor conseguia pela terceira e última vez, concretizar o seu desejo. A cidade enchia- se de dor, sem poesia, chocando amigos e conhecidos, parentes e familiares, deixava para trás todos os problemas de sua amargurada vida. Assis Valente escrevia num bilhete, seu último verso:"Vou parar de escrever, pois estou chorando de saudade de todas, e de tudo".
O cortejo de Assis Valente foi acompanhado de compositores, artistas, cantores e populares, além de parentes e familiares que estiveram presentes no seu sepultamento, realizado à tarde no cemitério 'São João Batista' (Quadra 19- Catacumba 507) em Botafogo. O enterro do compositor, foi custeado pela "Sociedade Brasileira de Autores, Compositores e Editores Musicais".
Entre amigos e admiradores de Assis Valente, que acompanharam o seu velório e enterro estavam presentes, os compositores Ari Barroso pela "SBACEM", o Vereador Amando Fonseca, representando a cidade do Rio de Janeiro, o Sr. Oscar Berbet Tavares, pelas "Casas Bahia" que prestaram a última homenagem ao compositor junto ao seu túmulo. Além de outros diretores da "SBACEM", Marília Batista, Joubert de Carvalho, Newton Teixeira, Russo do Pandeiro, Orlando Silva, Ismael Silva, Felisberto Martins, Gastão Formenti, Marino Pinto, Blackout, Olavo Silva, René Bittencourt, Mário Rossi, Sinval Silva, Zequete, o jornalista e Delegado Geral da Propaganda do Mate no Brasil, o Sr. Carlos de Souza Vianna, Zé Trindade e Risadinha. E também estavam presentes para dar o último adeus ao compositor baiano, os produtores Hebert Richers e outras entidades, além de numerosas pessoas, entre as quais figuras do rádio e da gravação de discos como o diplomata Pascoal, Carlos Magno, que representou o "Presidente da República", no funeral, acompanhando o corpo até à sepultura. Numa das coroas enviadas por
Amando Fonseca, estavam escritos a seguinte frase:
"Assis Valente, a cidade chora a tua morte".
Talvez assim realizando a profecia de um de seus últimos sambas, "Lamento":
"Felicidade, afogada morreu/ A esperança foi ao fundo e voltou/ Foi ao fundo e voltou/ Foi ao fundo e ficou".
Ausente no velório e no enterro do amigo, mas presente no sofrimento coletivo, Pixinguinha não conseguia aceitar o gesto tão extremo do sambista. Pixinguinha, chegou a declarar:- "Sexta- feira passada, dia 7 de março, ele estava alegre, contando anedotas como sempre". Decidido, então prestar à sua última homenagem póstuma ao amigo e companheiro morto. Acreditando estar atendendo ao desejo, que Assis verbalizava dias antes de morrer, Pixinguinha orquestrava e regravava a música "Tentei Fazer Mais Um Baião".